16.3.05

Cantigas de Escárnio e Maldizer (I)

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A Cantiga seguinte, de Maldizer, foi originalmente escrita por Joan Garcia de Guilhade (1239-1270), mas a versão aqui apresentada é uma corrupção popular da mesma. Recolhida no passado dia 15 de Fevereiro, à porta do Mercado Municipal de Estarreja onde era cantada por trovador popular, é digna, como adiante verá o leitor, de figurar entre as mais importantes obras deste género. Retrata a inveja de que padece o coração empedernido de um trovador em relação a Dona Isa, chamada do Mar (julgam, aliás, os estudiosos que a verdadeira Isa não se terá ocupado no ofício de peixeira, antes este é usado num tom propositadamente depreciativo).
Mas, mais importante que tudo, cá vai a Cantiga:

“Ai dona Isa! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louvo em meu trovar
Mas ora quero fazer um cantar
Em que vos louvarei contra a brisa;
E vedes como vos quero louvar:
Dona peixeira do Mar, Isa!

Ai, dona Isa! Que Deus me perdoe!
E pois haverdes tão grande coração
Que vos eu louve em esta razão,
Vos quero já louvar contra a brisa;
E vedes qual será a louvação:
Dona peixeira do Mar, Isa!

Dona Isa, nunca vos eu louvei
Em meu trovar, e muito trovei;
Mas ora já um bem cantar farei
Em que vos louvarei contra a brisa;
E direi-vos como vos louvarei:
Dona peixeira do Mar, Isa!”