5.1.05

Versos Populares (I)

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"Foi de manso, de mansinho,
A mulher do Fernandinho
Pela cala, sem espinhas,
Ao redor das mais velhinhas…

Quando Afonso se empertiga,
De trovão, em voz amiga
Se decide, pose e crista:
- Vai ser ela o 10 da lista!

Velho Miro já à míngua
Que se arrasta na má-língua
E se chora em lamento…
E vai d`Alfa, pela brisa,
Às Segundas, a Marisa
A caminho de São Bento!"

O poema, misto de crítica social e de heranças literárias das cantigas de escárnio é difícil de datar. Os mais entendidos falam da sua intemporalidade já que retrata a forma como a personagem principal “Marisa” é escolhida por “Afonso” para uma lista de representantes do povo.
A recolha destes versos, populares, brejeiros e até de certo mau gosto, não basta, por si só, para elucidar o leitor sobre o seu significado, nomeadamente em virtude de termos que, pelo seu mais raro uso, ou pelo segundo sentido que se lhes atribui, dificilmente serão interpretados da forma mais correcta. Assim, optámos pelas breves explicações que a seguir se apresentam:
“Fernandinho” – diminutivo de Fernando, apresenta um homem “dominado”, introduzindo uma primeira descrição indirecta do carácter dominador da personagem principal;
“velhinhas” – grupo organizado de mulheres mais experientes que esperavam indicar alguém para a “lista” e que foi, para sua surpresa, “ultrapassado”;
"Afonso" – cacique regional, herdeiro de um pai já cacique, detentor de posição de relevo no conjunto de representantes do povo;
“Miro” – velho cacique que, afastado à força pela personagem principal e caído em desgraça, passa a lamentar-se em público;
“Alfa” – meio de transporte mais utilizado pelos representantes do povo;
“Segunda” – segunda-feira;
“Marisa” – personagem principal;
“São Bento” – local de reunião dos representantes do povo.