30.5.06

Humor fácil



Qual a música que mais se canta na Rua das Pombas, em Aveiro?
"As pombinhas da Cat´rina".

15.5.06

Apesar do palpite furado

Passou praticamente meio ano e... nada! Pela primeira vez na sua história já longa, o Tirópassarinho assume que errou e que o seu palpite saiu furado. No entanto, e porque nada está perdido, temos várias equipas em contacto com as nossas fontes mais produtivas, que vão arrancar novidades que não deixaremos de dar aos nossos prezados leitores.


Para não deixar esmorecer o ambiente, e porque isto afinal tem muito mais piada se se disserem algumas piadas, prometemos alguns versinhos para os próximos tempos, nem que seja sem grande assunto, que a hora não é de grandes despesas. Mas continuaremos a ser chatos... mesmo muito chatos!

7.12.05

Palpite


- Então ela vai para Delegada, assim, à minha frente?
- Ó querida, eu juro que não tive qualquer influência... o facto é que ela já lá tinha estado, sabes que isso importa...
- E eu agora como fico? Ainda por cima ninguém sai do Parlamento Europeu... E afinal de contas quem é que é importante cá no partido?
- Hmmmm... não sei, não te lembras de nada que se possa arranjar? De alguém com quem eu possa falar... Eu sei que te lembras sempre de qualquer coisa... tens sempre tantas ideias!
- Estava aqui a pensar... mas não preciso que faças nada, acho que vou ligar ao Afonso, afinal ele conhece umas pessoas que me interessam...
- Boa, já estou a perceber... afinal há um lugar disponível e o Afonso esteve na Comissão de...
- Chiiiu! Ó querido cala-te que está a chamar...
- Tou, Afonso? Olá! Estava aqui a pensar...

(continua)

11.10.05

64 Pauladas depois, quase 65…


Caro amigo Pinto de Sousa;

Tal como pediste e por muito que me custe, cá te envio o relatório, mesmo adivinhando que estás a par de tudo. Não sou eu quem te escreve, que estou de cama… arranjei um acólito que me trata da escrita. A verdade é que levei semelhante tareia no Domingo que não sei quando poderei voltar a desenhar.
Como também deves saber, estava tudo planeado. A princípio pareceu-me muito estranho, mas explicaram-me tudo muito bem explicadinho e acho a estratégia perfeita – agora uma trepa para depois trepar! Simples, não é? A Conceição é mesmo esperta, fazes bem se a levares para S. Bento!
Só não estava a contar é que os danados me dessem tanta paulada! Só se safou o Artur, imagina tu, que ainda lhes deu umas arrufadas e pôs os colegas a gozá-los, cheios de riso... De resto ninguém se safou… e ainda houve quem levasse mais do que eu – o coitado do Pombo não sai da esteira tão depressa!
Admito que não dei grande luta, mas a saber que ía levar preferi não ser muito provocador. O mesmo não pode dizer o Arrebita – dizem-me que ficou gaguinho de todo! Tomara... aos planos que fez e à malha que levou, ainda deve ter o leitão entalado no gasganete! Aqui na cidade o panorama não foi melhor: o Zé não consegue dizer nada (é verdade que a Carolina já não o deixava falar, mas agora o rapaz parece ainda pior...). Já o Cunha parece que está bom das canetas – estava de serviço na noite de Domingo e deve ter tomado uns comprimidos, para além de poder disfarçar com a vitória da mulher.
Por falar em Aveiro, foi bom não teres vindo à campanha do Alberto – mais um que levou na tromba... Ah! Não sei se sabes, mas o Candal engoliu o charuto... Quando tiver que dar posse à nova Presidente deve engolir uma caixa de Montecristo inteira! Aposto que o Miro pagava para ver...

Não te queria aborrecer com isto, mas também não ficaste sem nada... não é? Quem te mandou ir ao Porto ajudar o Chico? O Rio não manda recados e pronto, chegou-te a roupa ao pêlo! E aquela tua figurinha a apoiar o gajo da Bárbara era desnecessária, até porque ambos sabemos que se o Carmona não ganhava, Lisboa ía para o Carrilho!

Um abraço (sem apertar muito que me doem as costas),
António Silva

P.S. – Recebi na sexta-feira um postal do Coelho, com a fotografia dele à porta do Palácio da Pena e a desejar boa sorte – ele está melhor?

16.3.05

Cantigas de Escárnio e Maldizer (I)

.
A Cantiga seguinte, de Maldizer, foi originalmente escrita por Joan Garcia de Guilhade (1239-1270), mas a versão aqui apresentada é uma corrupção popular da mesma. Recolhida no passado dia 15 de Fevereiro, à porta do Mercado Municipal de Estarreja onde era cantada por trovador popular, é digna, como adiante verá o leitor, de figurar entre as mais importantes obras deste género. Retrata a inveja de que padece o coração empedernido de um trovador em relação a Dona Isa, chamada do Mar (julgam, aliás, os estudiosos que a verdadeira Isa não se terá ocupado no ofício de peixeira, antes este é usado num tom propositadamente depreciativo).
Mas, mais importante que tudo, cá vai a Cantiga:

“Ai dona Isa! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louvo em meu trovar
Mas ora quero fazer um cantar
Em que vos louvarei contra a brisa;
E vedes como vos quero louvar:
Dona peixeira do Mar, Isa!

Ai, dona Isa! Que Deus me perdoe!
E pois haverdes tão grande coração
Que vos eu louve em esta razão,
Vos quero já louvar contra a brisa;
E vedes qual será a louvação:
Dona peixeira do Mar, Isa!

Dona Isa, nunca vos eu louvei
Em meu trovar, e muito trovei;
Mas ora já um bem cantar farei
Em que vos louvarei contra a brisa;
E direi-vos como vos louvarei:
Dona peixeira do Mar, Isa!”

5.1.05

Versos Populares (I)

.
"Foi de manso, de mansinho,
A mulher do Fernandinho
Pela cala, sem espinhas,
Ao redor das mais velhinhas…

Quando Afonso se empertiga,
De trovão, em voz amiga
Se decide, pose e crista:
- Vai ser ela o 10 da lista!

Velho Miro já à míngua
Que se arrasta na má-língua
E se chora em lamento…
E vai d`Alfa, pela brisa,
Às Segundas, a Marisa
A caminho de São Bento!"

O poema, misto de crítica social e de heranças literárias das cantigas de escárnio é difícil de datar. Os mais entendidos falam da sua intemporalidade já que retrata a forma como a personagem principal “Marisa” é escolhida por “Afonso” para uma lista de representantes do povo.
A recolha destes versos, populares, brejeiros e até de certo mau gosto, não basta, por si só, para elucidar o leitor sobre o seu significado, nomeadamente em virtude de termos que, pelo seu mais raro uso, ou pelo segundo sentido que se lhes atribui, dificilmente serão interpretados da forma mais correcta. Assim, optámos pelas breves explicações que a seguir se apresentam:
“Fernandinho” – diminutivo de Fernando, apresenta um homem “dominado”, introduzindo uma primeira descrição indirecta do carácter dominador da personagem principal;
“velhinhas” – grupo organizado de mulheres mais experientes que esperavam indicar alguém para a “lista” e que foi, para sua surpresa, “ultrapassado”;
"Afonso" – cacique regional, herdeiro de um pai já cacique, detentor de posição de relevo no conjunto de representantes do povo;
“Miro” – velho cacique que, afastado à força pela personagem principal e caído em desgraça, passa a lamentar-se em público;
“Alfa” – meio de transporte mais utilizado pelos representantes do povo;
“Segunda” – segunda-feira;
“Marisa” – personagem principal;
“São Bento” – local de reunião dos representantes do povo.

9.12.04

A Inquisição (ou um tiro no pé).

.
“Lá vai, em grande cavalgada,
A Inquisição pela velha estrada,
De Esmoriz, Couto em caminho,
Lá passa a terras de Espinho.

Arfam cavalos, em trote veloz
Encabeça o grupo diácono algoz.
Estancam marcha, apeiam as solas,
Surgem já no Solar dos Violas.

… O diácono Albergaria sobe às escadas, esconjura o guarda-portão e olhando para a criada, diz:
- D. Vladimiro de Pesqueira, está?
- Não está não, saiu…
- Não minta, há gente que aqui o viu!
- Mas Senhor, eu não minto…
- Mentis! E porque assim mentis, jamais servireis na casa que vou governar!
- Mas Senhor, se ainda estais por entrar…
- Entro e o encontrarei, sei que está a jogar!
Lá entra a Inquisição, de lâmina afiada na mão, lápis azul na orelha e altivo olhar, de esguelha...
(Truz, truz, truz!)
- Quem bate?
- A Santa Inquisição!
- Ora bolas, agora que tinha uma boa mão!
- D. Vladimiro, abri! Sabemos que estais aí! Não sois digno de confiança, nem já nobre de vasta herança. Jogais e desbaratais o lugar que vos confiámos!
- Como, se fomos nós que vos apadrinhámos? Estranha altivez essa… vós não sois boa peça!
- Abri! Aqui trago toda a cúria, que antes vos quer ver na penúria, que em lugar de pretendente!
- Ah! Trazeis a dúzia vossa parente! E D. Teixeira também vem?
- Aqui estou, perguntais bem! Sabeis que a cúria eu chefio e que vos segurámos por um fio... que acaba de ceder!
- Estivestes a beber? Não faz sentido o vosso senso, quereis vós saber o que penso? Acaso achais que fico quedo, pensais que tenho medo? Bem abria esta porta e vos daria bofetada, mas é D. França quem guarda a chave e a porta está trancada! Ao meu lado tenho D. Mota, Morgado desta lota e testemunha de meu pesar. Mais além um frade amigo que, à parte barriga e umbigo, está pronto a pelejar!
- São tais Fidalgos interesseiros e o frade excomungado seja! Juramos, não sois mais pretendente ao Couto de Estarreja! Quem, como vós, por vício joga, não pode vestir a toga! Quem se rende a tal tentação, não pode ser nosso patrão!
- E quem vota contra mim, para que possais falar assim?
- Toda a minha família! Perdão… toda a família… da rosa!
- Tendes vós demasiada prosa! Tudo me deveis! Sou agora a fonte do mal?
- Dever? Não me lembro de tal!”